Polícia prende organização criminosa formada por integrantes do MST

*Da Redação


Oito suspeitos de integrar uma organização criminosa foram presos durante a “Operação Castra” – deflagrada na última sexta-feira (4) no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. As pessoas detidas pela Polícia Civil paranaense integram o Movimento Sem Terra (MST) e são investigadas por diversos crimes como organização criminosa suspeita de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e permitido e constrangimento ilegal.

Com um dos presos, a polícia apreendeu um fuzil, uma pistola calibre 9mm, colete balístico, dois rádios comunicador e mais de 50 munições compatíveis. No cumprimento dos dez mandados de busca foram apreendidos ainda celulares, guias de trânsito de animal (suspeitas de falsificação, o que será apurado pela polícia) e equipamentos de uma rádio clandestina que funcionava na cidade de Quedas do Iguaçu, região Oeste do Paraná.

Além deste município, a ação policial aconteceu em Laranjeiras do Sul e Francisco Beltrão. Entre os presos está Claudelei Torrente de Lima (vulgo cachorro) recém eleito vereador de Quedas. Sete pessoas, todas do MST, estão foragidas da Justiça. Entre eles, Antônio de Miranda, dirigente nacional do movimento com forte liderança no Paraná, e Rudmar Moeses – considerado um dos líderes do MST no estado paranaense.

A investigação, conduzida pelos delegados Adriano Chohfi, titular da 15 Subdivisão de Cascavel, e Anna Karyne Turbay Palodetto, começou em março de 2016, após reuniões na Secretaria da Segurança Pública do Paraná, em Curitiba, nas quais foram relatadas uma série de denúncias de supostos crimes no município de Quedas.

“Sentamos com representantes do MST, inclusive dois que participaram foram presos, e com empresários e fazendeiros de Quedas do Iguaçu, quando me foram apresentadas denúncias de ambos os lados. De imediato, tomamos providências. Foram instaurados inquéritos na Polícia Civil e, em relação às denúncias apresentadas pelo MST, dando conta de possíveis crimes ambientais e de segurança clandestina, encaminhamos para a Polícia Federal para devida apuração”, explicou o secretário da Segurança, Wagner Mesquita.

Durante a investigação, a Polícia Civil se deparou com uma situação de incêndio criminoso num viveiro de mudas. A delegada Anna Karyne lembra ainda do episódio da invasão da Fazenda Dona Hilda, em Quedas do Iguaçu, quando empregados da propriedade disseram, em depoimento à polícia, terem sido mantidos em cárcere privado por horas e sob a mira de armas de fogo de grosso calibre.

O dono da terra relatou que após a invasão cerca de 1.300 cabeças de gado sumiram. Ainda segundo o fazendeiro, a invasão gerou um prejuízo estimado em R$ 5 milhões no total de danos à propriedade.

“Descobrimos que parte deste gado foi roubado pelos investigados e revendidos. Conseguimos recuperar alguns animais. Em uma destas negociações, os bois foram comprados por R$ 140 mil”, disse Anna. “Temos relatos de extorsão praticada pelos alvos da operação. Eles chegavam a cobrar até R$ 30 mil do fazendeiro para que ele pudesse colher a lavoura de soja”, completou.

Em abril, houve um confronto entre policiais militares e integrantes do MST, que resultou na morte de dois sem-terra. O movimento acusou a PM de fazer uma emboscada, o que foi descartado após investigação da PC e da Polícia Federal. “Durante a nossa investigação, ficou comprovado que integrantes do MST andavam armados e que a PM não fez nenhuma emboscada. O que se percebeu é um grupo extremamente organizado, mas que realizavam diversos crimes”, disse Chohfi.

A ação do MST atingia até mesmo os próprios assentados. Havia, conforme depoimentos colhidos pela polícia, a exigência de pagamentos referente à água, luz e acampamento, no valor de R$ 23. A água, entretanto, seria proveniente de um poço artesiano e a conta referente a energia não seria pago à Copel. Documentos dos integrantes também seriam recolhidos pelos “administradores” e inclusive a cobrança de uma taxa no caso de necessidade de algum assentado ter se se ausentar do assentamento por um tempo superior a dez dias, que é o estabelecido por eles. No caso do descumprimento de alguma regra, punições eram impostas.

“Nos deparamos com um Estado paralelo, onde o próprio MST mantinha suas regras. Lá, os integrantes do movimento são julgados e condenados, tendo que passar por 'castigos' impostos pela liderança”, relatou Mesquita. A investigação aponta que os assentados eram proibidos de trabalhar com carteira assinada e quando tinham que deixar o local, eram obrigados a pagar uma taxa. Tudo sob os olhares de homens fortemente armados.

Na decisão judicial que decretou a prisão preventiva, a juíza de Quedas do Iguaçu, Paula Chedid Magalhães, relata como o MST agia. “O grupo apontado usa da força para sub julgar os demais integrantes do Movimento Sem Terra, os quais se não cumprirem com as regras impostas são expulsos do local e, de consequência, do sonho de conquistarem a terra”, diz um trecho do documento.

Em outro relato, um assentado disse à polícia que eram obrigados a fazer protestos em rodovias, fechando as estradas, invadindo praças de pedágio, sob pena de expulsão do acampamento.

“É importante, porém, separar as coisas”, pontua o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Júlio Cezar dos Reis. “A operação da Polícia Civil não tem como alvo o MST, mas sim alguns integrantes do movimento suspeitos de cometer crimes. Não se discute aqui a legitimidade do MST, nem a questão fundiária. A investigação da Polícia Civil, conduzida de forma objetiva e eficiente, primando pelas técnicas policiais, revela que através do MST algumas pessoas cometeram crimes e, assim como todos, elas têm de ser responsabilizadas criminalmente”, disse Reis.

A Operação Castra contou com o emprego de cerca de 70 policiais civis. Foram destacados policiais das delegacias de Cascavel, Francisco Beltrão e Laranjeiras, além de homens da Divisão de Narcóticos (Denarc) de Cascavel, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), do Tático Integrado Grupos de Repressão Especial (Tigre) e do Grupamento de Operações Aéreas (GOA).

A operação foi batizada como “Castra” porque o nome significa acampamento em latim, locais onde a maioria dos integrantes desta organização criminosa residem.

São Paulo e Mato Grosso do Sul

Além das cidades do Paraná, a operação aconteceu nos dois estados vizinhos. A investigação apontou que dois alvos estariam na cidade de São Paulo e um em Mato Grosso do Sul. Antônio de Miranda não foi encontrado em Mato Grosso do Sul pela equipe de policiais do Tigre.

Já Rudmar e Margareth Barbosa de Souza, mulher de Miranda, estariam no estado paulista. Por conta disso, a Polícia Civil do Paraná pediu apoio à Polícia Civil de São Paulo para cumprimento de um mandado de prisão, neste caso de Margareth, que estaria numa escola agrícola ligada ao MST.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou, por nota, que “O mandado de prisão foi distribuído ao Garra de Mogi das Cruzes, cujos componentes se dirigiram ao local já referido, onde funciona uma Escola que, segundo os policiais, é ligada ao MST. De acordo com os policiais civis, não obstante esclarecerem e cientificarem a advogada Dra. Alessandra da Silva Carvalho sobre o motivo da diligência, surpreendentemente diversos moradores do local passaram a desacatar os policiais e, em seguida, tentaram agredi-los”, diz a nota.

“Os policiais ficaram encurralados num espaço do local e, sem que pudessem exercer outra maneira de se defenderem, tiveram que efetuar dois disparos de advertência ao alto, pois cerca de duzentas pessoas vieram em direção a esses policiais e, caso não tivessem agido daquela maneira, certamente seriam desarmados, linchados e quiçá mortos. Em decorrência do evento, quatro policiais civis foram agredidos fisicamente, os quais já foram medicados e liberados do Hospital. Dois agressores identificados no local, Glades Antonia de Oliveira e Ronaldo Valença Hernandes, foram detidos e conduzidos à Delegacia de Polícia de Guararema, onde está sendo confeccionado Termo Circunstanciado de Desobediência, Resistência e desacato”, finaliza a nota da secretaria paulista. *Com informações PC-PR

Foram presos: Claudelei Torrente de Lima (Cachorro); Tiago Cleiton Ferreira (Perereca); Antônio Cloves Ferreira (Neguinho); Valdemir Xalico de Camargo (Lobisomen); Daniel Ferreira de Almeida (Cabeludo); Fabiana Bagra (Bulgra); Claudir Braga (Graia); Evaldo de Azevedo (Valdo); Valdemir Oliveira de Lara (já estava preso).

Estão foragidos: Antônio de Miranda (Bugre); Rudmar Moeses (Frango); Margareth Barbosa de Souza (Meg); Ana Cláudia Ribeiro Batista (Capivara); Fábio Antônio Maximiano (Baby); Aureo Mendes (Mendes); Roberto Bueno de Oliveira (Bolacha).

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