Transformers 4 leva destruição a níveis ainda mais absurdos


É dos mistérios mais inexplicáveis do cinema contemporâneo que a franquia "Transformers" faça sucesso tão estrondoso. Baseados em uma linha de brinquedos, os filmes são longos, repetitivos e têm profundidade narrativa próxima a zero, mas levam multidões ao cinema desde que começaram a ser produzidos, em 2007.

O quarto título, "A Era da Extinção", chega às salas brasileiras nesta quinta-feira (17), depois de arrecadar US$ 208 milhões (R$ 462,7 milhões) nos Estados Unidos e se tornar, em apenas 12 dias, o filme de maior bilheteria de todos os tempos na China. Em regime de pré-estreia, o novo "Transformers" já liderou as bilheterias do Brasil nas últimas duas semanas, com renda muito superior aos filmes oficialmente em cartaz.

É difícil entender qual é o segredo da franquia produzida por Steven Spielberg e dirigida por Michael Bay, que narra a batalha entre robôs alienígenas bons (os Autobots) e maus (os Decepticons) que vivem na Terra e podem se transformar em objetos comuns, geralmente carros (carros não, carrões, do tipo "Velozes e Furiosos", para citar outro sucesso).

"A Era da Extinção" se passa quatro anos depois do filme anterior, "O Lado Oculto da Lua", no qual uma luta entre Autobots e Decepticons arrasou a cidade de Chicago e causou o fim da parceria entre humanos e robôs. Os Autobots que sobraram, inclusive o líder Optimus Prime, passam a ser caçados por um grupo de operações secretas da CIA, em parceria com outros alienígenas e uma corporação que busca tecnologia para produzir seus próprios robôs.

Até aí, a história segue metade da fórmula narrativa básica de "Transformers": criar um contexto político mirabolante para o quebra-quebra de criaturas gigantes. A outra metade vem do núcleo humano, que pela primeira vez é liderado por Mark Wahlberg, e não Shia LaBeouf, estrela dos três primeiros filmes.

Wahlberg é Cade Yeager, inventor cheio de dívidas e pai ciumento da adolescente Tessa (Nicola Peltz). Há uma série de dramas na casa dos Yeager: a falta de dinheiro, o risco de perderem a casa, o namoro que a jovem mantém, em segredo, com o piloto Shane (Jack Reynor). Mas nada disso importa muito, já que em "Transformers" o esforço dedicado ao roteiro é inversamente proporcional ao dinheiro gasto em efeitos especiais.

Em sua resenha sobre o segundo longa da trilogia, "A Vingança dos Derrotados", o célebre crítico norte-americano Roger Ebert descreveu "Transformers" como "uma experiência horrível de duração insuportável". "Se quiser economizar o valor do ingresso", sugeriu Ebert, "vá à cozinha, enfileire um coro masculino que cante a música do inferno e coloque uma criança para bater panelas. Depois feche os olhos e use a imaginação."

É difícil encontrar descrição melhor. Como os filmes anteriores, "A Era da Extinção" tem algumas cenas bonitas - um pôr do sol, uma tomada do deserto, o sobrevoo pela Muralha da China - e ao menos dois bons atores, Stanley Tucci e Kelsey Grammer, fazendo o que podem nos papéis do dono da corporação e do líder das operações secretas da CIA.

Mas estes são breves, brevíssimos respiros em um filme de 2 horas e 45 minutos - o mais longo de uma franquia já conhecida pela longa duração - que se resume a perseguições, explosões, carros voando, gente correndo, gritaria, barulho, música ensurdecedora, mulheres de roupa curta em papéis quase insignificantes e ações de merchandising nada discretas que provavelmente pagaram o filme antes de ele chegar aos cinemas.

Tudo é tão absolutamente excessivo que, quando Chicago e Hong Kong já foram destruídas e dinossauros-robôs aparecem na tela para mais um combate, é praticamente impossível conter o cansaço e tentar se ater a qualquer fiapo de história.

Não há dúvida de que uma enorme parcela do público, nos EUA e no mundo, gosta de ir às salas para ver filmes de ação, novas aventuras de super-heróis e lutas de robôs, alienígenas ou zumbis, um tipo de cinema que Bay ajudou a popularizar.

Nem sempre esses filmes agradam os não adeptos do gênero, mas em muitos casos há algo a se admirar: o carisma de Robert Downey Jr. em "Homem de Ferro"; os personagens bem desenvolvidos de "X-Men"; a estética original de "Círculo de Fogo".

O problema, portanto, não é que "Transformers" seja um blockbuster. O problema é que seja um blockbuster tão vazio.

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