MC de funk da ''Motinha'' luta por vida normal: ''Sucesso foi prisão''

Da Redação


O batidão do funk foi muito pesado para MC Beth. A paulistana criada no Rio começou a cantar aos 14 anos e estourou aos 18, com o funk “Dança da motinha”, em 2000 (veja letra e ouça). “Eu era muito nova e as coisas foram me desgastando”, resume. Após o hit, ela se sentiu em uma "prisão da fama” e desistiu do funk como profissão. Hoje, Elisabeth Raiol foi diagnosticada com autismo e se dedica a criar os dois filhos. Ela diz ter dificuldade de achar um emprego. “Se eu tivesse que varrer chão, faria com orgulho. Só quero ser normal."

Entre um show e outro com a dança que simulava o "rolê na moto envenenada", ela passava horas viajando no fundo de uma van. "Não sabia nem para onde ia. Nos lugares mais bonitos não conseguia nem olhar pela janela”, lembra. A pressão a fez “ficar com imunidade baixa e adoecer com facilidade”. Com a ajuda do pai, advogado, Beth diz ter feito um acordo para rescindir o contrato de cantora. Ela chegou a gravar outro funk de sucesso, “Tapinha”, mas, já no processo de romper o contrato, foi substituída no disco por outra cantora, MC Bella.

“Há pessoas que cantam e vivem para agradar, mas não têm vida para si mesmas. Eu fui prisioneira do sucesso. Pago esse preço até hoje, mesmo tentando ter uma vida normal”, diz.

Autismo
A musa do CD “Furacão 2000 - Tornado muito nervoso” sofreu a vida toda com problemas nervosos. “Tive diagnósticos estranhos. Já fui a neurologista que quis me encher de remédio”, lembra. Ela diz que teve amnésia após uma crise na adolescência. Só em 2013 recebeu uma análise que considerou correta. “O médico falou que eu tenho uma forma de autismo”, conta. “Só não posso ficar muito tempo dentro de casa, sem sair, pois começo a me sentir mal.”

MC Beth se diz “protetora dos animais” e resgata cachorros de rua. Atualmente são quatro cães vivendo com ela e outros com a mãe. “Meus animais dependem de mim, são membros da família”. Ter que se afastar dos bichos para cantar foi mais um incentivo para abandonar a música. “Sempre fui apegada e larguei tudo para cuidar deles. Não conseguia viver longe, então optei por uma vida comum”.

Em busca de trabalho
Após a maratona de shows com “Dança da motinha”, ela chegou a dar aulas de dança. Ainda no processo de desistir da carreira, começou a fazer um curso de graduação em Educação Física, mas não terminou. Depois, ainda fez cursos técnicos em veterinária e paisagismo. Ela ainda compõe músicas como hobby, e diz ter mais de 200 escritas na gaveta.

Beth procurou por empregos perto de casa. “Bem perto, para poder ver meus animais na hora do almoço”, explica. “Mas ninguém me vê como alguém comum. Acham que eu posso cantar, e que eu tiraria um emprego de quem não sabe fazer outra coisa. E meu currículo era todo voltado para música”, diz. O salário cairia bem. “O que ganhei na música era para minha família. Nunca investi em mim, mas nas pessoas que amo. Quando fui pensar em mim já estava mais velha”, conta.

“Hoje eu me dedico a ser mãe. Tenho dois filhos. Alejandro Valentino, de sete meses, e Mahrry Valentina, de dois anos”, conta Beth. Ela é casada há cinco anos com Jonas Almoaya, conhecido na cena funk carioca como DJ Magrinho. Ele é irmão da MC Marcelly, que estourou em 2013 no Rio com a música “Bigode grosso”. O casal e os filhos vivem em São João do Meriti (RJ).

‘Motinha’ abriu caminho
“Na época, o funk não era profissional. A ‘Dança da motinha’ ajudou a abrir caminhos para o estilo. Anitta, por exemplo, usou o funk para chegar aonde queria”, orgulha-se Beth.

“Na TV, muito artista olhava para mim de cara feia. Por ser do funk, tinha preconceito. Eles pensavam: ‘O que essa maluca, essa burra, está fazendo? Eu estudei anos. Por que ela conseguiu e eu não?’ Isso despertava raiva e eu não entendia, mas me entristecia. Achavam que caráter tem a ver com estilo musical. Mas há muitas pessoas com saia comprida e sem caráter nenhum”, diz.

“Eu tenho 33, mas parece que agora eu tenho 20, para muitas coisas”, diz Beth sobre a própria imaturidade. “Aos 18, eu me sentia uma criança no corpo de uma mulher. Era uma responsabilidade muito grande fazer todo o público se movimentar. Aquelas pessoas falando com você, te entrevistando, isso tudo era difícil. Eu não tinha ninguém por trás, era só eu, minha mãe e meu pai. Nunca me deslumbrei e nunca me preparei para aquilo.”

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