O sorriso do medo

*Paulo César dos Santos Chagas


Um garotinho corria alegremente, meio sem rumo.

Aquele garoto, usando uma capa de chuva azul (um presente que a sua mãe tinha lhe dado de aniversário), galochas amarelas, as mesmas que ele adorava usar para fingir ser um bombeiro. Corria para chegar à casa cedo, a fim de não levar uma bronca de seus pais. Tinha um rostinho redondo, testa grande, lisa e olhos amendoados. Um narizinho pequeno e fino que contrastava com as suas bochechas gigantes.

Era uma tarde sombria. A chuva diluviana e a neblina atrapalhando a sua visão. Por sorte, seu capuz o protegia da tempestade. Faltando uma quadra, ele já conseguia ver o portão de sua casa, não havia ninguém na rua, as casas estavam totalmente fechadas – quase pareciam abandonadas. As calçadas eram tortuosas, cheias de árvores plantadas aleatoriamente. Apenas se ouvia o som melodioso da chuvarada e os passos do garotinho pisando no meio fio molhado. A rua, durante um instante, pareceu deserta. Foi quando uns passos curtos vindos detrás do garoto quebraram o silêncio. Lentamente o menino olhou para trás. Deu um passo para trás e esfregou os olhos. Com força. Mesmo assim não conseguiu acreditar no que estava vendo.

Frente a ele havia um palhaço, um verdadeiro palhaço! Daqueles que apareciam em circos e TV. O garoto ficou parado bem na frente do “Arlequim”. Era um sujeito alto e magro como um palito, sua pele era tão branca como a neve, três tufos engraçados de cabelo laranja preenchiam sua cabeça careca, uma mistura de Clarabell e Bozo, seus lábios eram pintados de forma afiada e de um tom vermelho sangue formando um sorriso desagradável, malévolo e diabólico. Segurava vários balões coloridos, assim como algodão um pedaço de algodão doce, que ao ter contato com a água, se transformava numa massa espessa e aos poucos ia desintegrando-se, caindo no chão.

A criança sentiu um calafrio percorrer todo seu corpo, suas mãos estavam trêmulas, teve uma sensação estranha de estar com a garganta fechando como se tivesse uma gravata apertando seu pescoço. O palhaço escabroso continuou parado ali, enquanto a água derretia a maquiagem de seu rosto. O menino, com suas pernas imóveis e respiração descompassada, tentou falar algo para aquele homem, mas não conseguiu pronunciar nada. Ele sabia que o medo que sentia era irracional e exagerado, mas mesmo assim não teve capacidade para controlá-lo. O palhaço se aproximou do pequeno e deu-lhe um balão de presente, o garoto não agradeceu, nem sequer se moveu. O palhaço bagunçou o cabelo da criança e sorriu mostrando seus dentes amarelos. Após fazer isso, ele foi embora assobiando. O garotinho correu para a sua casa, deixando o balão para trás e perguntando-se por que havia temido aquela criatura.

Às vezes o medo se apresenta das maneiras mais inusitadas, talvez como uma aranha no banheiro ou como um quarto escuro, quiçá como um palhaço em uma tarde chuvosa. O medo sempre nos encara, ele não fala nada, apenas espera nossa reação. Nós damos o primeiro passo, quanto maior for o medo, maior tem que ser nossa coragem. Porque a coragem  não é a ausência do medo e, sim, a capacidade de conviver com ele.

 

“Pode um homem continuar a ser valente se tiver medo? Esta é a única maneira de um homem ser valente” (MARTIN, George; As Crônicas de gelo e fogo: a guerra dos tronos, p.17).

 

*Estudante do curso de Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul (IFMS), campus: Nova Andradina. Calmo, distraído e um pouco tímido. Gosto de ler romances policiais, novelas, literatura humorística e fantasia. Pessoalmente adora os livros de Raphael Montes.

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