Vô, vovô, vôzão

*Thiago Alves Schirmann


Vô, eu me lembro muito bem de todos os passeios e trabalhos que a gente realizava de trator, de quando o senhor saía em direção à garagem, e eu, com minhas perninhas curtas, saía correndo na mesma direção pedindo: “Vô, vô, vô, posso ir com você?”. E o senhor, sem pensar muito, dizia: ”Vamos, mas toma cuidado!”. E eu, todo sorridente, acelerava o passo para chegar primeiro e já fazia outro pedido: de ir dirigindo. Você, mais uma vez, deixava. Primeiro, você subia, ligava o trator e, depois, me punha no colo para que eu conduzisse até o local do trabalho.

Também me lembro de quando nós estávamos dando leite para o negão, aquele bezerro guacho, e ele saiu correndo para a estrada. Deu trabalho, mas com um pouco de correria, conseguimos pegá-lo novamente.

Outro fato que marcou, foi quando o senhor me ensinou a andar de moto. Foi no meio do pasto que você me seguia com olhar cuidadoso para eu não cair, não me machucar. Ah, vô, mas com um professor desses, nem precisei provar a maciez da grama.

Mas tem um fato que eu não esqueço jamais. Foi quando sentamos na área, um do lado do outro, e cantávamos aquelas modas de viola. Mesmo sem saber a música inteira, te acompanhava em todas as melodias – mas, entre todas, a que mais marcou é aquela que fala assim: “Toda vez que eu viajava pela estrada de ouro fino, de longe eu avistava a figura de um menino”. É.... essa mesma, Menino da Porteira!

Sua generosidade sempre foi um grande ponto de admiração, nos acolhendo durante alguns meses, dando teto, comida e conforto enquanto não achávamos um sítio para comprar.

Quando ficava em sua casa, parecia que eu era a coisa mais importante ali presente. Se eu fosse ao barracão ver você tirar leite, percebia que você deixaria até as vacas e bezerros de lado para me dar atenção. O senhor sempre me falava para tomar cuidado com coice, me dava aquele abraço de “bom dia” que não poderia faltar. Sempre zelando por mim, cuidando para que eu não me machucasse. É como diz Ana Vilela em uma de suas músicas: “Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si, é sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti”.

Seu cavalo, chamado “Pingo”, domado a mais de 16 anos, também o aguarda no curral para mais um dia de trabalho. Sempre animado, os dois andam por todo lado, às vezes, trabalhando, mas de vez em quando, valia dar só um passeio pela estrada cheia de buraco e areia, e logo eu aparecia por ali, para dar uma volta com o senhor.

Por mim, considerado o melhor vô do mundo. Sempre realizando meus pedidos, mesmo que muitas vezes, eles eram contrariados pela minha mãe, mas fazer o que né? Vô é vô! É “pai duas vezes”.

Hoje, com 70 anos, o senhor se encontra firme e forte, mas com um problema de saúde, uma luta contra um câncer, que o destrói por dentro, mas o deixa ainda mais forte e confiante para vencer essa batalha.

Tenho certeza, que com essa força de um guerreiro, você vai vencer isso, e vai continuar com esse seu sorriso misterioso, que não conseguimos distinguir se está bem de verdade, ou está apenas sendo mais forte, passando força para os amigos e parentes próximos.

Força, vô! Porque tem um montão de coisas que a gente ainda tem que reviver, cantar, dirigir e aprender. É como o senhor sempre diz, quando te perguntamos como tem passado: “Estou melhor que ontem”. E assim eu espero que, a cada dia o senhor diga para esse câncer: “hoje, eu estou muito melhor que ontem!”.

* Estudante do curso de Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul, campus Nova Andradina. Como hobbies, eu gosto de tomar tereré,  tocar violão, andar a cavalo e curtir a vida. Com o meu vô, então, melhor ainda!

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