Fiocruz solta mosquitos imunes à dengue para conter doença

Uol


Após dois anos de estudos, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) inicia nesta quarta-feira (24) os testes de campo de uma ambiciosa estratégia internacional de combate à dengue: a introdução na natureza de exemplares do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, imunes à doença.

No total, dez mil mosquitos "vacinados" serão liberados a partir de hoje em Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio.

Esta será a primeira vez em que um país nas Américas recebe o estudo; a iniciativa também está sendo feita paralelamente por cientistas da Austrália, Vietnã e Indonésia.

Com a utilização de uma bactéria natural, a wolbachia – encontrada em cerca de 70% dos insetos na natureza, incluindo moscas-das-frutas e pernilongos "comuns" – os pesquisadores garantem ser uma forma segura de reduzir a transmissão do vírus pelo mosquito.

A pesquisa já havia sido apresentada em setembro de 2012, no Congresso Internacional de Medicina Tropical, no Rio. Em laboratório, cientistas contaminam os embriões do Aedes aegypti com uma variante da bactéria wolbachia, que acaba impedindo o desenvolvimento do vírus da dengue no organismo do mosquito.

Expectativas
Pesquisador da Fiocruz e líder do projeto no Brasil, Luciano Moreira diz que os resultados da pesquisa já devem ser notados no próximo ano.

"Estamos diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população", avalia. Moreira foi responsável, com pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, pela descoberta científica da capacidade da wolbachia de reduzir a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito.

Segundo o pesquisador, os mosquitos com wolbachia serão liberados semanalmente na região da Ilha do Governador. Ele explica que "o número de Aedes é similar aos protocolos adotados com sucesso na Austrália, onde este tipo de estudo já foi concluído em mais de quatro localidades".

Eles serão liberados por três ou quatro meses, de acordo com a avaliação dos cientistas sobre a capacidade dos mosquitos de se instalarem no local.

Para reduzir o incômodo da população, antes do início da liberação dos mosquitos com Wolbachia, os pesquisadores, em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, realizaram uma etapa chamada de "supressão dos criadouros".

O objetivo foi reduzir a quantidade de Aedes aegypti por meio da eliminação de criadouros confirmados do vetor - assim, ao liberar no bairro os Aedes com a bactéria, o número total de mosquitos não sofrerá alteração.

"Buscamos com esta medida diminuir o desconforto para os moradores de Tubiacanga, que sempre apoiaram esta iniciativa científica", disse Moreira.

Inicialmente, os pesquisadores vão avaliar a capacidade dos mosquitos com wolbachia de se estabelecerem no meio ambiente e se reproduzirem com os que já existem no local.

"O projeto propõe uma abordagem sustentável e de longo prazo, pois, após o estabelecimento de Aedes aegypti com wolbachia no ambiente, a bactéria é transmitida naturalmente para as gerações seguintes de mosquitos", afirma.

"Assim, o método se torna autossustentável: os mosquitos com Wolbachia predominam sem que precisemos soltar constantemente mais mosquitos com a bactéria", explica Luciano.

Estudos previstos para 2016 em outras localidades do Rio de Janeiro poderão avaliar o efeito desta estratégia em reduzir a incidência de dengue.

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