Jovem aponta simulacro para PMs e acaba morto em Primavera (SP)

G1 Prudente


Um policial militar matou um rapaz, de 22 anos, no início da noite deste domingo (3), na zona rural do distrito de Porto Primavera, em Rosana (SP), a 85 km de Nova Andradina. O caso foi registrado como homicídio simples – morte decorrente de intervenção policial –, com excludente de ilicitude (quando a pessoa age em legítima defesa).

Segundo a Polícia Civil, policiais militares foram até a residência da vítima duas vezes. Na primeira, eles foram informados – por volta das 18h20 – de que um indivíduo estaria “causando desentendimento com a vizinhança, agindo sob efeito de álcool e droga”.

Ao chegar à casa do rapaz, que morava com o pai, os PMs foram recebidos pelo suspeito, que, de forma tranquila, entregou seus documentos e não demonstrou qualquer tipo de alteração.

Mais tarde, por volta das 19h30, os policiais receberam uma nova chamada para voltar à casa do indivíduo, acompanhados dos bombeiros. A informação era de que o rapaz estaria agindo de forma agressiva.

Ao desembarcarem, visualizaram o rapaz vestindo apenas uma bermuda, agachado no portão de entrada do imóvel.

Ao questionarem o motivo de estar agressivo e se o pai dele estava presente, os policiais notaram que o indivíduo estava com um sangramento em um dos braços e que havia uma caneca metálica com marcas de sangue sobre as lajotas que estavam na calçada.

Na ocasião, o rapaz teria dito: “Vocês aqui, de novo?”, e se levantou em direção ao interior da casa.

 Residência toda revirada - Foto: Polícia Civil - São Paulo/Divulgação

'Agressivo e transtornado'

Posteriormente, os militares viram que ele carregava um objeto nas mãos e decidiram acompanhá-lo no ingresso à residência, mas, quando acessou a sala de entrada, o rapaz fechou a porta.

Os policiais optaram por empurrar a porta e entrar no imóvel e, “para a surpresa” dos PMs, o rapaz “saiu do interior do quarto empunhando, na visão do policial militar que disparou, uma arma de fogo apontada”.

Imediatamente, o policial efetuou dois disparos sequenciais que atingiram o rapaz na região do tórax, o qual caiu ao solo e permaneceu de decúbito ventral (deitado, de barriga para baixo). No momento, a arma que ele portava caiu próximo de uma estante da sala.

O rapaz permaneceu com alguns movimentos no solo e os policiais mantiveram-se com as armas apontadas, “por motivos de segurança, acreditando que ele tentasse recuperar a arma caída”.

Em seguida, os bombeiros entraram no local e o socorreram. Neste momento, os militares se aproximaram da arma que estava no solo e constataram que se tratava de um simulacro de arma de fogo confeccionado de metal e fita isolante.

 Cartucho de arma de fogo - Foto: Polícia Civil - São Paulo/Divulgação

A equipe do Corpo de Bombeiros levou o rapaz até o Hospital Regional de Porto Primavera, mas depois foi informada do óbito.

A Polícia Civil esteve na casa da vítima, que “encontrava-se com móveis danificados e em total desordem, compatível com os relatos colhidos de que a vítima estaria agressiva e transtornada”.

O pai do rapaz diz nunca ter visto a falsa arma na casa.

“Verifica-se, dessa forma, que o policial militar fez uso moderado dos meios necessários [dois disparos] para repelir a injusta agressão iminente [arma apontada em direção ao PM], visando preservar sua própria vida, não sendo razoável exigir-lhe, nessa circunstância, atitude diversa”, cita o Boletim de Ocorrência.

Diante disso, foi reconhecida a incidência da legítima defesa.

O PM foi ouvido e liberado, mas sua arma foi apreendida. O caso segue sendo investigado.

Apuração

A Polícia Civil informou ao “G1”que um inquérito policial padrão já foi instaurado para apuração e elucidação dos fatos e que testemunhas deverão ser ouvidas.

Os agentes ainda devem aguardar resultados da perícia realizada na arma do policial militar e no simulacro, bem como do exame necroscópico do rapaz, que constatarão as lesões e a coerência do relato dos fatos.

Diligências também serão realizadas para confirmar a propriedade do simulacro feito de modo artesanal, já que a família diz desconhecer a existência do objeto.

 Várias mobílias quebradas - Foto: Polícia Civil - São Paulo/Divulgação

Por ora, conforme a Polícia Civil, o ambiente e os ferimentos (vistos em primeiro momento) eram coesos com o relato dos policiais sobre a ação. Testemunhas também apontaram que o simulacro já estava no local quando a PM chegou.

Em nota ao “G1”, a Polícia Militar relatou que houve dois acionamentos no serviço de emergência “190” para o mesmo endereço no distrito de Porto Primavera, no município de Rosana, e que no primeiro chamado, por volta das 18h30, a denúncia apontava que “havia um rapaz sob efeito de entorpecente e álcool causando desentendimento com a vizinhança”.

No local, encontraram o rapaz em fronte ao imóvel, "aparentemente tranquilo, e como não constataram nenhum desentendimento, os policiais encerraram o atendimento".

“Cerca de uma hora após, houve novo acionamento, desta vez juntamente com o bombeiro local, sendo que o rapaz estava agitado e sujo de sangue, entrando imediatamente no imóvel, sendo seguido pelos policiais. Momento em que o rapaz se voltou contra os policiais empunhando uma arma de fogo (vindo a ser constatado posteriormente que se tratava de um simulacro), motivo pelo qual um dos policiais efetuou dois disparos que atingiu o rapaz”, esclareceu a PM.

O rapaz foi socorrido imediatamente pelos bombeiros que ali estavam, mas não resistiu e morreu.

Ainda conforme a corporação, “foi instaurado inquérito policial pela Polícia Civil, que também aprendeu a arma usada pelo PM, e inquérito policial militar pela Polícia Militar para cabal apuração dos fatos”.

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