Arroz de festa

*Rodrigo Alves de Carvalho


Edivino adorava casamentos. 

Poucas vezes entrava na igreja e não era convidado pelos noivos, mas não perdia um casamento. 

Todo mundo conhecia Edivino e sua mania de estar em todos os casórios que eram realizados na igreja da cidade. 

Edivino catava o arroz de festa jogado nos noivos com sua vassourinha e uma pá. Ele esperava a chuva de arroz nos noivos acabar para recolher o cereal e colocá-lo numa sacolinha. 

Como toda semana aconteciam casamentos e chuvas de arroz, Edivino juntava cerca de cinco quilos de arroz por mês. 

- Não preciso comprar arroz! – Dizia Edivino quando questionado o porquê de catar arroz na porta da igreja. 

Foram mais de dez anos recolhendo arroz, nesse tempo Edivino nunca se casou. 

- Casamento é muito caro! A gente paga pra nascer, paga pra viver e pra morrer; não vou pagar pra casar! 

Nem preciso dizer que Edivino era muquirana profissional. 

Se bem que seria cômico ver Edivino acabar de casar, todo alinhado com terno e gravata abaixado e recolhendo o arroz que fora atirado em sua direção ao invés de cumprimentar os convidados na porta da igreja. 

O que mais irritava Edivino, no entanto não eram as gozações e provocações das pessoas, muito menos os pés inconvenientes que atrapalhavam na hora da catação do arroz e sim quando atiravam quirelas (arroz quebrado) nos noivos. 

- Casamento de pobre é fogo! - Xingava baixinho ao recolher o arroz de terceira. 

Contudo, de uns tempos para cá Edivino não frequenta mais os casamentos munido de vassoura e pá. Ele não está doente e muito menos parou de ser muquirana. É que nos casamentos atuais quase não se jogam mais arroz nos noivos, agora jogam pétalas de rosas e bolhas de sabão. Além do que o arroz entrava nos ouvidos e impregnavam nos cabelos da noiva. 

Mas a real razão de não se jogar arroz nos noivos nos finais dos casamentos atuais é outra e Edivino fica ainda mais desanimado por não poder mais recolher essa preciosidade: 

- O arroz está muito caro! 

 

*Jornalista, escritor e poeta, nasceu em Jacutinga (MG), possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

Cobertura do Jornal da Nova

Quer ficar por dentro das principais notícias de Nova Andradina, região do Brasil e do mundo? Siga o Jornal da Nova nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube. Acompanhe!