— Descansou no sábado? Você disse que ficaria em casa para dormir cedo.
— Não consegui dormir por causa do pagode.
— Sabia que você partiria pra noitada! Seu sangue baladeiro não nega...
— Nada disso. Meu vizinho resolveu fazer uma festa em sua casa neste sábado e o pagode rolou solto.
— Pagode no vizinho? Você foi, é claro.
— Claro que não. Mesmo sendo o único vizinho lá no meu bairro, eu estava decidido a não sair de casa. Inclusive não me aguentava de sono.
— Mas até que horas foi esse pagodão?
— Já era quase uma hora da madrugada. Eu sei que não teria ninguém para reclamar, exceto eu, mas a barulheira parecia não ter fim. As pessoas falavam alto, gritavam, cantavam, bebiam...
— E você enfurnado na cama? Não é possível!
— Estou falando sério. Foi então que não aguentei mais e liguei pra polícia.
— Tá brincando! Você ligou pra polícia?
— Liguei. Falei que era tarde e o som alto da festa estava me incomodando.
— Mas o vizinho iria saber que foi você. Já que é o único vizinho dele.
— Mas o que eu podia fazer? Estava com muito sono e só queria dormir.
— E o que aconteceu?
— A polícia chegou e o pessoal abaixou o volume do som.
— Beleza. Aí você pode dormir.
— Que nada. Foi só o carro da polícia ir embora e virar a esquina e o som voltou ao volume máximo.
— Caramba! E o que você fez?
— Liguei pra polícia de novo e falei que o pessoal estava desrespeitando a autoridade policial e mais coisas para colocar fogo na situação.
— E aí?
— A polícia voltou e chegou dispersando todo mundo.
— Finalmente! Só então você pode dormir. Não foi?
— Pior que não. Com tanta agitação e curiosidade para saber o que iria acontecer e com aquela adrenalina toda, acabei perdendo o sono. Fiquei tentando dormir por um tempo, assisti TV, li jornal e nada. Então decidi sair de casa para dar uma volta de carro para ver se o sono voltava.
— E o sono voltou?
— Voltou. Só que quando fui dormir já era sete horas da manhã.
— Por quê? Onde você foi?
— Coincidentemente também estava rolando um pagode no clube da cidade. E aí você sabe... o sangue baladeiro falou mais alto...
*Jornalista, escritor e poeta, nasceu em Jacutinga (MG), possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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