300 anos do filósofo Barão DHolbach

*Ricardo Oliveira


No próximo dia 8 de dezembro completam-se 300 anos de nascimento do filósofo Barão D’Holbach, um expoente (ainda pouco conhecido) do Iluminismo do século XVIII.

Paul Henri Thiry, mais conhecido como barão D’Holbach, nasceu em uma família católica alemã no dia 8 de dezembro de 1723. Ele foi criado desde os sete anos na França por seu tio, François-Adam Holbach, o primeiro barão D’Holbach, o qual lhe proporcionou uma sólida formação educacional, parte dela na universidade holandesa de Leiden, instituição célebre na época pela liberdade de pensamento e pelo espírito de tolerância.

Barão D’Holbach se naturalizou francês e teve em Paris um famoso salão, centro de encontros de filósofos e de debate de ideias. Era conhecido como uma pessoa de caráter discreto, virtuoso, generoso, bom pai e bom marido. Além de ser um importante filósofo iluminista.

A filosofia iluminista ganhou projeção na Europa do século XVIII com uma visão de mundo alicerçada em uma epistemologia construída através do uso da razão. A ênfase na razão como forma de construção do conhecimento levou os iluministas a rejeitarem o saber elaborado com base na autoridade e na tradição. Isso levou a uma redefinição da religião.

A relação dos iluministas com a religião evoluiu para o deísmo, isto é, para uma boa parte desses filósofos, Deus teria criado o mundo, mas caberia as pessoas cuidar da Terra. Com o deísmo, filósofos como Voltaire (1694-1778) defenderam a crença em um ser superior, nomeado como Deus, mas acessível ao ser humano via razão e não pela via da fé.

O contexto intelectual do Iluminismo também propiciou a difusão de obras filosóficas que expressavam explicitamente ideias de teor materialista. Os filósofos materialistas defendiam o princípio de que a Natureza definia o que era o ser humano. Além disso, eles recusavam a noção de que os valores morais tinham origem em uma divindade.

Barão D’Holbach foi um dos filósofos iluministas com uma visão de mundo materialista. Ele também ficou conhecido por sua identificação como ateu. Na obra O sistema da natureza, publicada em 1770, onde ele apresentou os fundamentos filosóficos de seu ateísmo.

No livro de 1770, Barão D’Holbach afirmou que a natureza, em um sentido amplo, seria o resultado da reunião de diferentes matérias, com suas diferentes combinações e movimentos. O ser humano seria, por definição, um ser físico, fruto da reunião de diferentes matérias, submetido às leis da natureza e cuja essência seria sentir, pensar e agir.

No que diz respeito ao caminho para a felicidade humana, Barão D’Holbach afirmou que ela estaria atrelada ao conhecimento da própria natureza, suas leis e caráter, e não em sistemas de pensamentos metafísicos, como a religião. Por isso, a base da moral estaria na experiência, reflexão e razão, as quais conduziriam os indivíduos a praticarem a virtude, merecer afeição, a estima e o auxílio dos outros.

Com base nesse pensamento filosófico, Barão D’Holbach afirmou que o ateu seria o indivíduo que recusaria explicações sobrenaturais para reconduzir a si e seus semelhantes ao mundo da natureza, da experiência e da razão, mundo esse que também seria a base para a construção de valores éticos e morais para o convívio social entre as pessoas.

Barão D’Holbach faleceu no dia 21 de janeiro de 1789, o célebre ano do início da Revolução Francesa. Ele deixou como legado uma obra filosófica de teor materialista que ousou pensar uma ética e existência humana sem referenciais religiosos. Além de ter contribuído para definir o ateísmo como uma filosofia, e não apenas como descrença em Deus.

Referências:

ÁVILA, Fábio Rodrigues de. Natureza e imanência: o sistema da natureza de Holbach. São Paulo: Alameda, 2018.

MINOIS, Georges. História do Ateísmo. São Paulo: Editora, Unesp, 2014.

*Docente do Curso de História da UFMS/CPNA

Este texto, não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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