O ébrio aniversariante

*Rodrigo Alves de Carvalho


De vez em quando, aceito o convite dos amigos e vou em algum boteco, seja numa quinta ou sexta-feira, depende dos tira-gostos que serão preparados, já que os donos desses bares, geralmente são também cozinheiros de primeira. 

Tomar uma cervejinha e comer um tira-gosto com os amigos, acompanhado daquela conversa fiada acumulada durante a semana, sobre futebol, política, música e principalmente mulheres, sem faltar, é claro, muitas risadas por histórias do passado e lembranças dos tempos de juventude. Tudo isso, faz parte do ambiente descontraído e etílico dos botecos. 

Porém, sempre aparece um sujeito embriagado, que na maioria das vezes, não conhecemos, ou apenas, vimos por aqui e ali, que se achega para se enturmar. 

— Semana que vem faço 58 anos! Vocês também estão convidados para meu aniversário. Vai ter um almoço caprichado. 

— Para não sermos mal-educados, e pelo efeito do álcool, que nos deixa mais sociáveis, damos trela para o sujeito. 

— Opa! O que vai ter de bom no seu aniversário? 

O sujeito abre um sorriso entusiasmado. 

— Vai ter arroz, feijão tropeiro ou tutu à mineira, frango e pernil assado, além de porção de torresmo, de mandioca e batata-frita. 

— Parece que vai ser bom. E para beber? 

— A cerveja que você quiser, vai ter. 

Sem querer julgar, mas já julgando, não dava para acreditar que o sujeito pudesse realizar uma festa de aniversário daquela magnitude. Precisávamos de mais detalhes. 

— Claro que iremos à sua festa. Onde vai ser? 

— Vou fazer minha festa no restaurante da Dona Maria Soares. Indo para o bairro do Tanque. Sabe onde é? 

Conhecíamos o tal restaurante, na verdade, um local bem frequentado, com uma comida caseira muito gostosa. 

— Vai ser no próximo sábado. É só chegar e dizer que são convidados do Toninho aniversariante. 

Até aí, beleza! O sujeito, melhor dizendo, o Toninho, já havia feito o convite, já havíamos aceitado, entretanto, ele pede uma pinga no balcão e quando começamos a mudar o assunto, ele volta. 

— Sábado que vem vocês vão no meu aniversário. Vou fazer 58 anos! 

— Vamos sim. Está combinado. 

E ele repete tudo de novo... o que iria ter em seu aniversário, e onde seria... repetiu tantas vezes, que nem estávamos mais dando bola. 

Finalmente, ele vai embora. Logo depois, vamos embora também. 

No sábado, sem ter muito o que fazer, resolvo ir até o lotado restaurante só para conferir se aquela história de aniversário seria verdadeira. 

E era. Ou melhor, mais ou menos. 

Realmente era aniversario do Toninho, a grande maioria das pessoas eram suas convidadas e havia todas as comidas e bebidas que ele havia mencionado, contudo, era preciso pagar para comer e beber. 

O Toninho era um dos garçons do restaurante. E a dona do estabelecimento havia prometido (como presente) uma porcentagem dos ganhos daquele dia para o esperto aniversariante. 

*Jornalista, escritor e poeta, nasceu em Jacutinga (MG), possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores. 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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