Opinião: A arbitragem na berlinda

Por Cleyton Lutz*


A arbitragem brasileira viveu seu inferno astral no final de semana. Depois de várias semanas de reclamações, o ápice foi atingido no domingo, 16, na 19a rodada do Brasileirão. Vale destacar que na mesma semana os próprios árbitros já tinham realizado uma série de protestos antes dos jogos devido ao veto, através da MP do Futebol, do repasse de 0,5% das cotas de televisão a eles.

Reclamar da arbitragem é normal. Mas dessa vez podemos acrescentar alguns fatos novos. Além dos torcedores, a briga foi comprada por dirigentes e parte dos jornalistas. Foram comuns acusações de favorecimentos intencionais. A imprensa não ficou atrás. Muita coisa foi “sugerida”. A indignação da “mídia especializada” não se restringiu aos veículos locais, já que as emissoras de alcance nacional também entraram em cena.

Mas calma lá... Até que se prove o contrário – como em 2005 quando Edílson Pereira de Carvalho entrou em ação – os árbitros erram diversas questões, como reparação ruim, deficiências técnicas e condições de trabalho inadequadas, não por desonestidade.

O tratamento que a arbitragem recebe nas quartas, quintas-feiras, sábados e domingos tem requintes de crueldade. Instantes depois de um lance polêmico, lá está a televisão mostrando de todos os ângulos, fazendo tira-teimas, etc. Recursos que o árbitro nunca tem dentro de um jogo. Em campo, a visão é limitada e a decisão precisa ser tomada em fração de segundos. Resumindo: não foi a arbitragem que piorou, foi a cobertura da mídia que melhorou...

Eles erram em todos os lugares. Pode-se argumentar que aqui mais. É válido. Mas isso não pode ser desvinculado de outros fatores como a maneira como é gerida a Comissão de Arbitragem, a composição do quadro atual, o debate sobre a profissionalização dos árbitros e auxiliares.

Mas de maneira geral, isso raramente entra em questão. Por uma razão bem simples: a crítica (pesada) à arbitragem é a saída mais conveniente no Brasil, seja para torcedores, jogadores, técnicos, dirigentes e jornalistas. Por isso não convém melhorar a arbitragem.

Ela é a melhor resposta para a frustração de torcedores; para a incompetência de dirigentes na escolha de técnicos, atletas e montagem de elencos; para as deficiências técnicas e táticas de jogadores e treinadores.

A tal “mídia especializada” é um caso a parte. Se vendo um lance pelos monitores diversas vezes e em câmera lenta, os tais “especialistas” não conseguem chegar a um consenso, como podem então declarar o árbitro “culpado”? É muita cara de pau. Para a imprensa existe ainda outro fator determinante: a discussão sobre arbitragem ocupa boa parte dos programas esportivos pós-rodada. Sem ela, teria que se falar mais de futebol, do jogo em si. Mas para isso é preciso entender do assunto. Aí as coisas se complicam...

Em suma: a menos que os árbitros sejam trocados por robôs ou sejam incorporados diversos recursos eletrônicos nas partidas, o que parece muito distante, a arbitragem vai se seguir errando para todos os lados. Além de um árbitro e dos auxiliares, um jogo de futebol tem 22 jogadores em campo, duas comissões técnicas e uma porção de suplentes em cada partida.

Sinto saudade do tempo em que se discutia a participação de todos esses personagens em um jogo...

*Jornalista

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